terça-feira, 5 de julho de 2011

A vida das Palavras.

Texto publicado no livro " Com a palavra os professores do Brasil"



Que seria a vida sem a vida das palavras?...
Não é decerto fácil escrever sobre a vida das palavras, que em um revoar em constante harmonia, paira sobre todos que têm sensibilidade para vê-las, ouvi-las, encantar-se com elas e mergulhar no seu interior que revela a significação mais profunda de seus metaplasmos.
A vida das palavras não é como a nossa efêmera. Elas estão sempre em gestação, e quando nascem, ramificam-se e, através de suas raízes, criam outras palavras, que geram também as mais novas criações chamadas neologismos. Quando grafadas entram para a história, envelhecem, mas não morrem jamais. Após muitos anos de uso, vão se transformando em arcaísmos. Já, quando só proferidas, podem se perder, pois, como já se refere o adágio popular,” as palavras o vento leva”.Além disso, também possuem  a mágica de transformar simples mortais em imortais que, juntos, vão para um paraíso de sonhos e de heterogeneidades.
É nos livros que elas repousam, são eles, os santuários das palavras. Basta um simples toque em suas páginas e elas saltarão como faíscas tremeluzentes, mesmo aquelas que já saíram de uso e se tornaram arcaicas, estão lá, imortalizadas, a fim de fazer aqueles que sabem compreendê-las, viajar até as estruturas mais profundas que a imaginação fértil permitir.
As palavras, ao se expandirem sobre a Terra, disseminam a cultura, perpetuam os contos, fazem amar, sofrer, odiar, encantar, embalar os sonhos, fantasiar a vida, ditar a guerra, semear a discórdia, provocar mortes, negociar a paz, fazer compreenderem-se uns aos outros, compreenderem aquilo que o pensamento raciocinativo já não é capaz de decifrar e descobrir.
Há também, no universo das palavras aquelas que são as mestras da boas educação e dos bons costumes, tais como por exemplo : obrigado, por favor, perdão, com licença, bom dia,... Estas podem ser ditas com toda a simplicidade e delicadeza, são sempre bem-vindas. Além destas, há outras, que devem ser proferidas de mansinho, sussurradas, e aquelas que não se podem conter o ímpeto de gritá-las, pois são válvulas de escape para os momentos de raiva e dor. E ainda há outras que só podem ser ditas a amigos sinceros, são estritamente confidenciais. Com as palavras, também se podem dizer coisas puras ou denegrí-las com mensagens pornográficas que se moldam perfeitamente a elas.
No infinito mundo das palavras, existem aquelas que sozinhas dizem tudo e outras que não dizem nada. Estas precisam da união e da concordância com outras que se vão tecendo como pontos de crochê até formar frases e textos magníficos, e estes que não desatam num simples puxar de nó. É nesse tecido que está a criatividade da imaginação, os personagens da ficção, a sintaxe, a polissemia, as metáforas, a semântica, a polifonia, a riqueza do falar literário, um carnaval de palavras.
As palavras não precisam somente ser proferidas altas, baixas, sussurradas ou escritas para fazer parte da comunicação. Basta um simples gesto das mãos e aí, divinamente esta linguagem tão silenciosa, rica e dinâmica acontece. Os surdos sabem usá-las perfeitamente.
E os poetas??? São as pessoas mais sensíveis que conseguem penetrar na profundeza das palavras, desvendarem seus segredos e lapidá-las como se fossem diamantes raros, fisgá-las sem feri-las e plantá-las com carinho e sensibilidade. Eles sabem amá-las, enaltecê-las e transformá-las. Para estes, as palavras são a nutrição da mente e o sabor da alma.
E as crianças??? Estas também conseguem penetrar nas palavras e viajar, purificar suas almas e, para isso, basta ouvir o “Era uma vez...” e tudo é encantamento. É o linimento que elas precisam para lidar com suas ansiedades e emoções confusas. Sabem com facilidade invadir o Reino encantado das palavras e se deliciarem silenciosamente com todas as letras, basta que para isso, tenham contadores de histórias e livros desde a mais tenra idade.           
 Nos últimos anos, as palavras também invadiram a rede Internet e anularam as distâncias com as pessoas em qualquer lugar do mundo.. Sendo possível reconfigurar o tecido do texto a todo o momento, bastando, para isso, recortar, colar, copiar, deletar, inserir etc.” E num bailar  encantador, as palavras ganham estilos, colorido, sombreados  e se  revelam de uma forma criativa. Este novo espaço de leitura ampliou a multiplicidade do saber humano e criou novas formas de linguagem. Os jovens, criaram logo o internetês, para tornar mais ágil a comunicação fazendo uma linguagem taquigráfica, fonética e visual.
 Assim sendo, felizes são as criaturas que conseguem imergir no universo das palavras. Elas não sentirão solidão, porque é de lá que vem o prazer, aquele que satisfaz, que enche a vida, que dá entusiasmo, aquele prazer que vem da cultura e que jamais rompe com ela, e está ligado ao hábito de leitura e da escrita. É o prazer que propicia o dialogar mais profundo do conhecimento do seu mundo, tronando o ser capaz de se livrar do autoritarismo que funciona, como amarras.
Em suma, as palavras são como as rosas, têm raízes, pétalas, perfume e espinhos. Elas ganham vida para ser proferida, escrita, lida e interpretada para dar brilho e magia à comunicação para tornar o mundo culto.
Pensando bem... Que seria da vida sem a vida das palavras ???



                                                                                                                                                                           Petronilha Alice Meirelles.

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